terça-feira, 25 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

segunda-feira, 10 de maio de 2010

aula dinamica no contexto hospitalar...


No dia quinze de Abril de 2010, pelas nove horas e trinta minutos da manhã, tivemos o privilégio de assistir ao testemunho prestado pela Doutora Conceição, que integra a equipa de Serviço Social do Hospital Cova da Beira e que, nesta qualidade, nos pode transmitir um conjunto de informações fulcrais, relacionadas com a intervenção dos Técnicos de Serviço Social no contexto hospitalar.
A equipa na qual esta profissional de Serviço Social está inserida, é constituída por oito elementos, distribuídos por três departamentos sediados no Hospital Pêro da Covilhã, no Hospital do Fundão e no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental. Esta equipa é coordenada pelo conselho de administração, possuindo contudo um dos elementos integrados na mesma, que desempenha as funções de coordenador técnico de todas as intervenções desta equipa. Todos os elementos das três instituições realizam reuniões mensais, podendo haver trocas entre eles, no que diz respeito ao serviço que devem desempenhar, no caso da ausência de um deles. Estas reuniões, entre outras coisas, servem para lhes serem transmitidas, por parte da coordenadora de equipa, normas e orientações que devem seguir no decorrer das suas funções.
O Serviço Social, nas referidas instituições funciona integrado em todos os serviços de urgências, internamento e ambulatório e, além disso, cada equipa de acreditação e avaliação de casos, integra um Técnico de Serviço Social. Dentro da equipa de Serviço Social existem vários departamentos constituídos, cada um, por dois Técnicos, que têm a seu cargo, todas as funções sociais inerentes a um conjunto de serviços específicos do Hospital. Podendo, inclusive trabalhar em colaboração com a equipa de gestão de altas, da qual a Doutora Conceição é inclusive coordenadora. Esta equipa intervém nos processos de sinalização e de identificação dos utentes que necessitam de mais apoio.
No âmbito da função dos Serviços Sociais nestas três instituições, a Doutora Conceição, membro integrante destes serviços e que desempenha as funções de Técnica de Serviço Social, considera que “ a intervenção dos Técnicos de Serviço Social em contexto hospitalar não é, de todo, simples” justificando esta afirmação com uma das características fundamentais das intervenções destes profissionais, e que é a necessidade de se adaptar ou adequar todo o processo de intervenção às especificidades do doente, família e contextos em que este se insere. Outro princípio muito importante da actuação dos profissionais de Serviço Social, referido pela Doutora Conceição, é o sigilo profissional, ou seja, o Técnico deve manter sigilo da informação que lhe é dada pelo utente, devendo apenas, caso tal seja necessário, analisá-la em conjunto com os colegas de equipa. Mesmo nas actualizações do caso do doente, feitas no sistema informático de sinalização do Hospital da Covilhã, só é colocada alguma informação e o único que tem acesso à mesma, para além da equipa de Serviço Social é o médico responsável pela sinalização do caso. Os Técnicos devem, actuar ainda com o maior respeito para com o utente, o que lhes permite, de certa forma, salvaguardar ao máximo a sua dimensão emocional, que é aquela que muitas das vezes está mais lesada pelas dificuldades, pelas quais ele passou ou passa. Grande parte das intervenções dos Técnicos estão voltadas, para a aquisição de equipamentos junto da Segurança Social, I.P.S.S, Câmaras Municipais entre outras instituições, que podem englobar material para suprir determinadas limitações físicas do doente ou mesmo apoio alimentar, e ou melhoria das condições habitacionais. Mas podem ainda intervir em casos de abusos sexuais, violência doméstica, junto de crianças e jovens em risco, etc., actuando, aqui em coordenação com as Forças Policiais, I.P.S.S, C.P.C.J, Serviços de Linhas de Emergência Social, Instituições de Educação, Tribunais Judiciais, Segurança Social, Instituto de Reinserção Social, entre outras instituições. Podem ainda intervir em situações de desemprego, intervindo nestes casos em coordenação com instituições que, possam prover ao sustento provisório do utente, como C.P.C.J, Segurança Social, entre outras, mas também com o centro de emprego para promover a capacitação e o regresso do mesmo ao mercado de trabalho, o mais rapidamente possível. No Hospital da Covilhã a intervenção dos profissionais de Serviço Social é orientada e estruturada, segundo a Doutora Conceição, por um “manual Técnico do Serviço Social” específico desta instituição.
A intervenção destes profissionais no Hospital da Covilhã, apenas se inicia após terem acesso a uma listagem dos casos sinalizados por médicos, enfermeiros, familiares, amigos mas também por forças de autoridade ou outras instituições. Geralmente, esta sinalização é colocada num software integrado nos serviços do referido Hospital e ao qual os Técnicos têm acesso. Este aplicativo possui um “modelo” onde estão referidos um conjunto de indicadores sociais, aos quais, o médico ou enfermeiro vai responder de acordo com os dados que possui do caso que pretende sinalizar. Em seguida, estes dados chegam perfeitamente estruturados à equipa terapêutica, que toma de acordo com a análise dos mesmos, a decisão relacionada com a necessidade ou não de intervir nesse caso específico. Esta metodologia, permite acelerar todo o processo de sinalização e de avaliação de cada caso. Em seguida é realizada uma recolha de dados, que vão posteriormente, dar origem ao diagnóstico social. Estes dados permitem avaliar socialmente o doente e a sua família, e mais especificamente, as suas principais limitações, potencialidades, ambiente familiar, laboral, laços com a vizinhança e as principais patologias de que sofre. Numa primeira fase, estes dados são recolhidos através de entrevistas a todos os afectados, que são realizadas ou em consultas, em que estes se deslocam às instalações do Hospital, ou, caso tal seja impossível, é o Técnico que se desloca até eles. É de frisar que a qualquer momento, o utente pode pedir a interrupção do processo de intervenção, tendo para o efeito, de assinar uma declaração de interrupção deste processo, assumindo assim todas as responsabilidades inerentes a esta interrupção. Antes de assinar o processo de recusa, o utente é informado de todas as consequências que podem advir desse passo. Contudo, segundo a Doutora Conceição, isto não ocorre com frequência. Após todo o processo de avaliação e recolha de informação inicial, é elaborado o diagnóstico social, baseado na mesma e que vai constituir-se como base de toda a intervenção. É de acordo com este diagnóstico, que os técnicos identificam e intervêm centrando-se nas necessidades / carências ou problemas mais prioritários. Durante todo o processo de intervenção, ocorre uma avaliação e registo diário da sua evolução pela Técnica presente na rede social, sendo avaliados pela comissão de gestão de qualidade em conjunto com a mesma. Estas informações, podem levar a que se encontrem lacunas na intervenção ou por erros, ou falta de informação no diagnóstico, ou por inadequabilidade da intervenção ao mesmo pelo que o processo de acção dos técnicos, pode ser alterado a qualquer momento. Ao longo da intervenção, os Técnicos do Hospital da Covilhã, recorrem a parcerias como as já referidas instituições integradas nas redes sociais, recorrendo a cada uma delas ou a várias de acordo com as especificidades de cada caso. Segundo o testemunho da referida profissional, nem em todos os casos é necessário realizar-se visitas domiciliárias, sendo que a ocorrerem, os Técnicos têm de ter uma autorização prévia do utente para o efeito. Estas visitas, podem, contudo, ser marcadas para qualquer data de um período um pouco alargado, como por exemplo, uma semana, para evitar a preparação prévia do utente para as mesmas, tendo assim, o técnico acesso às reais condições de habitação e familiares nas quais o utente vive e não a uma montagem realizada por este, ou pela sua família, com o objectivo de lhe omitir informação. Isto pode ocorrer, por exemplo, em casos de negligência da higiene habitacional. Porém, em casos graves, em que algum dos membros da família corra risco eminente, os Técnicos podem alertar as autoridades para esse mesmo caso e estas, estando na posse de mandato judicial, podem deslocar-se à habitação com o Técnico, sem ser necessária a referida autorização do utente.
Por fim, e destacando desde já o enorme contributo que a Doutora Conceição nos deu, no âmbito da intervenção dos Técnicos de Serviço Social em contexto hospitalar, motivo pelo qual devemos desde já agradecer-lhe, optamos por destacar aqui a sua resposta à pergunta “Como é que esta profissão a afecta realizada por um dos espectadores do colóquio, e à qual a oradora respondeu da seguinte forma: “Esta é uma profissão difícil, que mexe com os sentimentos do profissional. Nos primeiros anos levava os problemas para casa, mas ao longo do tempo, vamos ficando com algumas resistências. Mas isso não quer dizer que ficamos mais insensíveis. Temos de nos isolar dos problemas, senão nunca conseguimos resolve-los. A ideia que se tinha do Serviço Social há vinte anos, era de ajudar os pobrezinhos, coitadinhos que nada têm. Hoje o doente é bio-químico-social. Às vezes sinto-me frustrada, por viver no país em que vivo, que não nos dá recursos, mas também há momentos em que me sinto feliz, quando tenho os meus sucessos.”
Esta resposta, espelha a grande riqueza do testemunho que nos foi dado, em termos dos principais desafios, com os quais os Técnicos de Serviço Social se deparam, no desempenho das suas funções que por vezes, os levam quase a desesperar, mostrando-nos contudo que, apesar das grandes dificuldades da profissão, o seu exercício também é muito gratificante, pois quando se atinge o sucesso nos casos em que se está inserido, a gratificação obtida, justifica plenamente a luta constante com a qual estes profissionais se deparam todos os dias.