quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SERVIÇO SOCIAL ÉTICA, DEONTOLOGIA & PROJECTOS PROFISSIONAIS

Helena Almeida

Fonte: http://www.cpihts.com/Library/Deont.htm#01


A obra que passo a apresentar surge na sequência de um conjunto de iniciativas promovidas pelo Centro Português de Investigação em História e Trabalho Social (CPIHTS), designadamente um curso sobre “Ética profissional, Direitos Humanos e Responsabilidade Social” e um Seminário sobre “Serviço Social: Ética, Responsabilidade Social e Projecto Social”, e explicita de forma clara a intenção de promover o debate em torno da questão da cultura profissional dos assistentes sociais. O livro enquadra-se ainda numa estratégia de divulgação do esforço empreendido pelo CPIHTS na creditação da área do Serviço Social enquanto domínio científico.

Trata-se de uma obra colectiva publicada em parceria do CPIHTS com a Veras Editora e o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, e foi apoiada pelo Ministério do Trabalho e Solidariedade, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, pela Associação de Profissionais de Serviço Social e pelo Projecto Atlântida. Apresenta um preâmbulo do seu organizador e Presidente do CPIHTS, Alfredo Henrique, e é constituída por duas partes complementares: uma de artigos reflexivos sobre ética, deontologia e projectos profissionais e outra de documentos essenciais à compreensão do estado da questão.

Conta com a colaboração de investigadores como José Paulo Netto, Maria Lúcia Barroco, Carlos Jacques, Jorge Cabral e Cristina Maria Brites, o que à partida constitui um incentivo à leitura pela qualidade que é reconhecida à sua produção científica e ao sentido crítico que usualmente lhe está associado. Trata-se , pois, de uma obra colectiva onde se inscrevem os seguintes artigos:

• A construção do Projecto Ético-político do Serviço Social frente à crise Contemporânea - José Paulo Netto

• Os fundamentos Sócio-históricos da Ética – Maria Lúcia Barroco

• Ética e Solidariedade – Jorge Cabral

• Ética e Deontologia Profissional – Jorge Cabral

• O que é ser um bom Assistente Social? Prolegómenos de uma genealogia moral do Serviço Social – Carlos Jacques

• A centralidade da Ética na formação profissional – Cristina Maria Brites e Maria Lúcia Barroco


O debate da questão do projecto ético-político do Serviço Social é recente o que contribui para a relevância científica desta obra, tanto no plano dos conceitos como no da argumentação, articulados no discurso e apenas distintos para efeitos de análise.

A obra encontra-se estruturada em torno da análise dos conceitos de projecto profissional, moral, ética e deontologia profissional, e propõe a reflexão do quotidiano profissional e a genealogia moral como métodos de abordagem da questão ética do serviço social .

Sem pretender apresentar aqui a riqueza dos conteúdos dos vários artigos que integram a obra, destaco quatro ideias implícitas à reflexão desenvolvida pelos autores.




I – Como distinguir Moral e Ética ?

Os fundamentos da ética são sociais e históricos. Só o ser social age eticamente uma vez que só ele é capaz de agir com consciência e liberdade. Para agir teleologicamente o Homem cria alternativas de valor, escolhe entre elas, incorporando-as nas suas finalidades. Neste contexto, e no sentido de explicitar as formas específicas de objectivação da ética, Maria Lúcia Barroco estabeleceu a distinção entre prática moral, a acção ética e reflexão filosófica sobre elas.

“A moral é o conjunto de costumes e hábitos culturais, transformados em deveres e normas de conduta, que responde à necessidade de estabelecer parâmetros de convivência social. As normas morais são orientadas por princípios e valores que, quando estão legitimados socialmente, funcionam como deveres exigidos aos membros da sociedade, tendo por objectivo o bem da comunidade. No plano da moral as acções são valoradas como boas/más, justas/injustas, correctas/incorrectas” (Maria Lúcia Barroco, 34).

“É no campo da moralidade que são estabelecidos os juízos de valor (...). Os deveres, as normas e os juízos configuram o carácter normativo da moral e atendem a expectativas sociais diante do comportamento dos indivíduos” (ibid., 35).

“A moral e os valores são sempre sociais e históricos: são construções culturais objectivas inscritas nas relações sociais inerentes à (re)produção da vida social” (ibid, 35).

Os costumes são considerados como deveres porque são fruto de um consenso social acerca do que é bom para a colectividade. Tal facto leva a que se crie uma expectativa de que os indivíduos respeitem tais deveres, mas para isso é preciso que eles os aceitem conscientemente como legítimos, “daí a necessidade de criar a vinculação entre o dever e a consciência moral, entre o carácter social da moral e a sua aceitação subjectiva” (ibid., 35).

A moral constitui a prática dos indivíduos na sua singularidade e a ética é a reflexão teórica e a acção livre voltada ao humano. O conteúdo da reflexão ética é a própria realidade moral. ”As normas e os valores não são instituídos pela teoria, mas por necessidades práticas. A teoria pode contribuir para entender esse processo, indagando sobre o seu significado e voltando à prática para contribuir na sua transformação” (ibid.36)

A consciência da universalidade do Homem, o consciente respeito do outro, o agir individualmente em função do seu compromisso com projectos colectivos, constituem indicadores de um comportamento ético provido de um “sujeito consciente das suas escolhas e responsabilidades na sociedade” (ibid., 37).

A reflexão ética contribui para a descoberta das implicações éticas do agir social e do significado dos valores existentes nas relações de poder.

II – Genealogia da moral do Serviço Social, uma proposta metodológica fundamental à construção da identidade profissional ?

“Se por deontologia entendemos o conjunto de deveres exigidos aos profissionais, uma ética de obrigações para consigo próprio, com os outros e com a comunidade, parece evidente que todas as profissões implicam uma ética, pois todas se relacionam directa ou indirectamente com outros seres humanos” (Cabral, 52).

Crítico da abordagem positivista da ética profissional, cuja finalidade reside essencialmente na exploração da natureza de problemas e dilemas morais, avançando com a prescrição de formas de agir correctamente, Carlos Jacques (59-71) propõe uma alternativa : a genealogia da moral do serviço social. Referindo Nietzsche e Foucault, define genealogia como o estudo das condições de possibilidade da verdade de um discurso. As condições podem ser internas ao discurso (critérios de cientificidade, tradições disciplinares, técnicas retóricas,...) e externas (relações sociais, relações de poder, contexto histórico, ...), ambas contribuindo para determinar as condições de verdade de um discurso. Simultaneamente descritiva e crítica, a genealogia apresenta uma dimensão crítica fundada no complexo histórico que legitima um discurso.

Aquilo que se afirma sobre a moral do serviço social tem a sua própria história, uma história que acumula e constitui as condições de legitimidade daquilo que é afirmado. A genealogia moral constitui uma proposta de investigação sobre as condições de legitimidade do discurso moral, um método de análise da moral do serviço social, que avalia a importância dos valores que integra e abre caminho a outras “possibilidades históricas de agir profissionalmente”( ibid. 62).

O conceito do “social” determinou e continua a determinar os valores básicos da profissão. A finalidade de uma profissão e os valores subjacentes a essa finalidade são condicionados pela história da profissão e pela história da sociedade em que se insere. Por isso, a genealogia do social coloca em evidência a história do serviço social, num evoluir nem sempre tranquilo tendo mantido inalterado o objectivo da coesão social. De acordo com o código deontológico internacional do Serviço Social de 1994, os assistentes sociais devem colocar os seus objectivos, conhecimentos e experiência ao serviço dos indivíduos, dos grupo, das comunidades e da sociedade, apoiando-os no seu desenvolvimento e na resolução dos seus conflitos individuais ou colectivos e nas consequências que daí advêm, descortinando-se o propósito de assegurar as relações de solidariedade que constituem a sociedade. O serviço social assume deste modo uma posição conservadora, integrando-se num conjunto de políticas e instituições dedicadas à promoção da coesão social e na manutenção da realidade dominante.

Segundo o autor, a alteração da sua justificação moral, o seu conservadorismo, exige mais do que simplesmente reconceptualizar a natureza das suas acções no campo social. Terá que ir ao encontro do princípio da soberania democrática.

III – Em que consiste o Projecto Profissional?

Como refere Paulo Netto, os homens agem sempre teleologicamente. As suas acções são sempre orientadas para objectivos-metas e fins. A acção
humana implica sempre um projecto que é uma antecipação ideal da finalidade que se pretende alcançar, com a inovação dos valores que a legitimam e a escolha dos meios para a atingir. Apenas os projectos societários, aqueles que apresentam uma imagem da sociedade a ser construída, e que reclamam valores e privilegiam meios materiais e culturais para concretizar essa sociedade, possuem uma dimensão política que envolve relações de poder.

O Serviço Social não constitui uma unidade identitária, ele está alicerçado na diversidade de origens e expectativas sociais, comportamentos e preferências teóricas, ideológicas e societárias distintas. Por isso, a profissão de Serviço Social é um espaço plural de onde poderão emergir projectos profissionais diferentes. “Toda a categoria profissional é um campo de tensões e lutas” e a afirmação de um projecto profissional não suprime divergências e contradições. Ela deve fazer-se através do debate, pela discussão, pelo confronto de ideias.

IV - Quais os valores básicos do projecto profissional do Serviço Social?

A análise do projecto ético-político do serviço social no Brasil mostra que ele se centra nos seguintes valores:

1 - A Liberdade:

Reconhece a liberdade como valor central, concebida historicamente como possibilidade de escolha entre alternativas concretas. Deste modo, a liberdade surge associada à autonomia, à emancipação e desenvolvimento dos sujeitos entendidos como actores providos de vontade.

“O projecto profissional vincula-se a um projecto societário (ideal) que propõe a construção de uma nova ordem social, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e género” (Netto, 24).

2 - A Defesa intransigente dos Direitos Humanos:

A equidade e a justiça social, na perspectiva da universalização do acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, a ampliação e a consolidação da cidadania constituem condição para a garantia dos direitos civis, políticos e sociais.

3 - A democratização de procedimentos:

O projecto reclama-se radicalmente democrático, entendendo-se democratização como a “socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida”.

4 - Um compromisso com a competência:

A competência profissional implica uma formação académica qualificada que viabilize a “análise concreta da realidade social” imprescindível ao desenvolvimento de procedimentos adequados. A auto-formação permanente e o exercício de uma postura investigativa revelam-se fundamentais.

É necessário romper com o voluntarismo, com o isolamento profissional e com as falsas interpretações acerca da direcção social do projecto ético-profissional.




5 - Um compromisso com a qualidade dos serviços prestados:

O projecto profissional radica num compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, o que implica uma abertura das decisões institucionais à participação dos utentes.

No Brasil, o Serviço Social tem-se vindo a afirmar em contextos diversos, e a sua expansão encontra-se legitimada pela crescente massa crítica e redimensionamento da formação, mas sobretudo “à reconquista dos direitos cívicos e sociais que acompanharam a restauração democrática da sociedade brasileira” (Netto, 22).

O projecto profissional é um processo contínuo que se constroi no quotidiano, e que assenta numa proposta de resgate da centralidade da ética na formação profissional. A defesa e a reprodução dos princípios e valores éticos que lhe estão subjacentes exige sujeitos profissionais activos e autónomos. Como referem Cristina Maria Brites e Maria Lúcia Barroco “A formação ética, pela sua natureza filosófica, é pressuposto essencial, tanto para o desvelamento crítico do significado das escolhas individuais em face dos projectos colectivos, quanto para orientar a construção de respostas profissionais que, diante dos desafios quotidianos, tenham a capacidade objectiva de romper, em algumas situações, ou de resistir aos limites da ordem burguesa” (80).

O contributo essencial deste livro reside no facto de considerar a existência ética como um recurso teórico acessível aos quadros profissionais que estão em formação, rompendo com a ausência de reflexão ética sobre a prática profissional. O estágio, enquanto experiência pré-profissional, permite a construção de uma identidade e postura éticas no processo de formação, e constitui “uma relação orgânica com o quotidiano”.

Mas o interesse da obra aqui apresentada ultrapassa a qualidade dos referidos artigos. Para além de uma listagem das publicações do CPIHTS, o livro inclui ainda 4 documentos importantes para o estudo e reflexão das questões da ética, deontologia e projectos profissionais do Serviço Social, designadamente:

• • A ética no serviço social. Princípios e Valores, documento adoptado pela Assembleia Geral da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais, em Julho de 1994.

• • Definição de Trabalho Social, adoptada pela Federação Internacional de Trabalhadores Sociais, documento divulgado pela Associação de Profissionais de Serviço Social em 2000.

• • Princípios Éticos y Políticos para las Organizaciones Profesionales de Trabajo Social del Mercosur, documento cedido pelo Comité Mercosur de Organizações Profissionais de Trabalho Social.

• • Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais, aprovado em Brasília pelo Conselho Federal de Serviço Social no dia 13 de Março de 1993.

Estes documentos mostram por si a actualidade do debate que aqui se inicia.
É difícil numa obra colectiva estabelecer um fio condutor entre os contributos diversos dos autores que integra. Também nesse aspecto, a obra aqui apresentada responde a esta exigência. Aparentemente com algumas repetições no plano dos fundamentos teóricos, a natureza da escrita e as reflexões a que nos conduz permitem-nos estabelecer a riqueza de abordagem e uma matriz teórica referencial. Também por isso, a iniciativa desta publicação merece ser aplaudida.

Coimbra, 22 de Abril de 2002.



BIBLIOGRAFIA

Artigos
- A construção do Projecto Ético-político do Serviço Social frente à crise Contemporânea - José Paulo Netto
- Os fundamentos Sócio-históricos da Ética -Maria Lúcia Barroco
- Ética e Solidariedade -Jorge Cabral
- Ética e Deontologia Profissional -Jorge Cabral
- O que é ser um bom Assistente Social? Prolegómenos de uma genealogia moral do Serviço Social -Carlos Jacques
- A centralidade da Ética na formação profissional - Cristina Maria Brites e Maria Lúcia Barroco
VALORES BÁSICOS DO PROJECTO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL

1 - A LIBERDADE
2 - A DEFESA INTRANSIGENTE DOS DIREITOS HUMANOS
3 - A DEMOCRATIZAÇÃO DE PROCEDIMENTOS
4 - UM COMPROMISSO COM A COMPETÊNCIA
5 - UM COMPROMISSO COM A QUALIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS

DOCUMENTOS

A ÉTICA NO SERVIÇO SOCIAL. PRINCÍPIOS E VALORES, documento adoptado pela Assembleia Geral da Federação Internacional de Trabalhadores Sociais, em Julho de 1994.
DEFINIÇÃO DE TRABALHO SOCIAL, adoptada pela Federação Internacional de Trabalhadores Sociais, documento divulgado pela Associação de Profissionais de Serviço Social em 2000.
PRINCÍPIOS ÉTICOS Y POLÍTICOS PARA LAS ORGANIZACIONES PROFESIONALES DE TRABAJO SOCIAL DEL MERCOSUR, documento cedido pelo Comité Mercosur de Organizações Profissionais de Trabalho Social.
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS, aprovado em Brasília pelo Conselho Federal de Serviço Social no dia 13 de Março de 1993.

ASSISTENTE SOCIAL: UM GARANTIDOR DE DIREITOS?

ASSISTENTE SOCIAL: UM GARANTIDOR DE DIREITOS?

MAGRI, Grazielle Pereira1, ESTEVAM, Érika Fabiana Brugnola2, MARTINEZ, Simone Duran
Toledo3

PALAVRAS-CHAVE: Deveres, Direitos Sociais

O interesse em realizarmos o presente estudo é fruto de nossos questionamentos como sujeitos em formação, constituindo-se assim como um desafio, do qual acreditamos poder enriquecer as
discussões já existentes, acerca dos deveres do Assistente Social no trato dos direitos sociais. O
profissional de Serviço Social tem o dever de garantir direitos sociais à população assistida e usuária de serviços sociais. Porém, no atual contexto neoliberal, os ajustes macro-estruturais tem sistematicamente desmontado os direitos tornando-os matéria de lutas pela sua manutenção ou reconquista. Os direitos Sociais particularmente referidos à Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social), assim como Educação e Trabalho estão sendo esvaziados, mediante sua precarização, focalização e descentralização na esfera pública, e uma estratégia ideológica de suposta transferência para um dito “terceiro setor”. Com isto, claramente, ocorre uma perda de direito do cidadão no acesso às respostas para suas necessidades e conseqüente efetivação de seus direitos sociais, ou seja, uma desresponsabilização do Estado, (contrariando a Constituição, a LOAS e a LOS) e uma auto-responsabilização dos portadores de carências pela solução de seus problemas sociais (auto-ajuda, filantropia), um verdadeiro retrocesso histórico nos direitos do cidadão. Este cenário avesso aos direitos atesta a urgência e relevância de seu debate, problematizando as questões acerca dos direitos sociais e dos deveres do Assistente Social na efetivação destes, enquanto um profissional engajado e comprometido com o projeto ético-político hegemônico da categoria. Portanto este estudo tem a finalidade de oferecer subsídios científicos que possam, polemizar e melhor compreender este tema, através do desenvolvimento de uma análise teóricocrítica e reflexiva, tendo como base metodológica a investigação no âmbito da pesquisa bibliográfica.
A partir destas colocações chegamos ao seguinte questionamento: é possível ao profissional garantir tais direitos neste contexto de negação e desmonte dos mesmos?, e se for dever do Assistente Social garantir direitos, onde ficam as classes sociais e suas lutas, para a manutenção destes?, e onde comparece o Estado, com seu dever constitucional?. Com isto queremos reafirmar a necessidade de o profissional de Serviço Social participar no processo de conquista, garantia e ampliação de direitos sociais do trabalhador e do cidadão em geral, pois entendemos que: conquistar Direitos é tarefa e resultado das lutas de classes e sociais em geral; garantir Direitos Sociais é dever (constitucional ) do
Estado; participar na luta pela garantia, ampliação e defesa dos Direitos do trabalhador, dos Direitos civis e políticos, da Seguridade Social Pública, isto sim, é dever do Assistente Social e num duplo sentido, pois é um dever da profissão na medida que aparece como normativa do nosso Código de Ética, e um dever individual para aqueles profissionais engajados no projeto hegemônico da categoria.

1 Discente da Faculdade de Serviço Social de Presidente Prudente – Faculdades Integradas Antônio
Eufrásio de Toledo - e-mail: grazimagri@ig.com.br.
2 Discente da Faculdade de Serviço Social de Presidente Prudente – Faculdades Integradas Antônio
Eufrásio de Toledo - e-mail: erikabrug@bol.com.br
3 Co-Orientadora e Docente da Faculdade de Serviço Social de Presidente Prudente – Faculdades
Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - e-mail: simone@unitoledo.br

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Trabalho Social em Rede


A Aplicação das Redes Sociais no Trabalho Social

Ao longo das últimas décadas, temos assistido a várias transformações nas sociedades europeias, as quais se têm tornado progressivamente mais industrializadas e nas quais o grau de proximidade entre as pessoas, tem diminuído (consequência das migrações para as zonas urbanas, onde as pessoas se conhecem menos).
Assim, de forma a acompanhar estas mudanças, foi necessária uma reformulação e melhoria do trabalho social, na qual se teve em conta a rede social.

A socialização como um processo sócio - histórico
Actualmente as sociedades são mais modernas e complexas, sendo constituídas por inúmeras redes sociais (família, empresa, clube desportivo, instituição, escola etc.), nas quais os cidadãos estão incluídos.
Existem vários factores que permitiram que as sociedades se tornassem mais complexas, tais como, a urbanização, a industrialização, o desenvolvimento do Estado fundamentado na regra da lei e no Estado Providência, a Europeização e globalização.
No que diz respeito à urbanização e industrialização, podemos referir que, hoje em dia, a maioria das pessoas trabalha em zonas urbanas, no sector industrial e terciário.
Assim, as sociedades de hoje, são consideradas pós-industriais de serviços, sendo o computador, os telefones móveis e a internet, algumas das ferramentas mais utilizadas.
O processo de industrialização tem vindo a ser acompanhado pelo de urbanização, de tal forma que, por exemplo na sociedade Portuguesa, a maioria das pessoas vive em áreas urbanas, como Lisboa e Vale do Tejo.
O segundo factor enunciado teve origem com industrialização, a qual foi responsável pelo desenvolvimento de uma luta entre classes sociais e pelo progresso da indústria. Consequentemente, formou-se a sociedade capitalista burguesa, que através de um sistema de segurança social, impulsionou a criação do Estado Providência e do Estado Fundamentado na regra da lei, onde a eleição democrática foi estendida a todos os cidadãos, criaram-se sistemas pluralistas multipartidários, promoveu-se uma justiça independente e liberdade de empresa.
Quanto ao terceiro factor, podemos referir que a Europeização, surgiu como resultado da Segunda Guerra Mundial e da ameaçada da União soviética nos países europeus ocidentais. Tais marcos, levaram a que estes países se unissem formando-se, a Comunidade Económica Europeia, em 1956. Já a globalização, que tem acelerado o processo de Europeização, pode ser de vários tipos: globalização económica (dos mercados de produtos, de cooperação na produção e da divisão no trabalho); informática (utilização do telefone móvel, fax, televisão por satélite e internet); financeira ecológica e cultural (o domínio da musica pop, de filmes e programas televisivos americanos, do fast-food). Todos estes processos de globalização são interdependentes, pois influenciam-se entre si.
O mundo não tem só uma base política, mas também é constituído por várias redes de instituições, tais como, organizações não governamentais, governos nacionais, empresas multinacionais e organizações supra e internacionais.

A individualização como processo social
O Estado fundamentado na regra da lei e no Estado Providência, possibilitaram o surgimento de inúmeras instituições sociais, que apoiam os indivíduos a vários níveis (financeiro, económico, psicológico, etc.), apoio esse que deixa de ser da inteira responsabilidade da família e amigos. Por exemplo, se uma pessoa ficar sem emprego, ela já pode recorrer ao subsídio de desemprego, não precisando tanto da ajuda financeira de outros, ou se uma mulher tiver um filho, ela já não precisa de casar para ter mais apoio económico, pois esse pode ser dado pelo estado. Através do segundo exemplo, percebe-se que a família já não tem a importância que tinha à décadas atrás, pois os divórcios e as famílias monoparentais têm aumentado, ao passo que o número de pessoas por lar tem diminuído. Assim, o que se verifica actualmente, é que muitas pessoas optam por viver juntos e não casar, enquanto que outras preferem viver sozinhas, com ou sem filhos, sendo mais frequente encontrar pais solteiros no norte da Europa, que no sul.

A socialização de rede como uma figuração
Cada indivíduo estabelece uma relação recíproca e mútua com a sociedade envolvente, estando inserido em várias redes sociais. No entanto, a extensão dessas redes depende da constituição das famílias.
Se a família for constituída por pai, mãe e filhos, a rede social da mesma vai ser real e intensa, englobando muitos contactos, com a família, amigos, vizinhos, pessoas na escola, no trabalho, entre outros.


No caso de a família ser monoparental, esta rede é menos alargada, limitando-se às pessoas conhecidas pela mãe/pai e pelos filhos. Neste caso existem poucos contactos no domínio das redes primárias (com família, amigos, vizinhos, etc.), mas mais contactos com instituições e pessoas no sector das redes secundárias (por exemplo, com um assistente social.)


Se uma pessoa viver sozinha, a sua rede social será menos extensa e, por consequente, mais pobre e frágil que as duas anteriores, pois este interage com menos pessoas.

A importância das redes sociais na sociedade e no apoio social

As redes sociais têm um importante relevo, tanto na sociedade como no apoio à vida diária de todas as pessoas, sendo este termo utilizado em diferentes ciências sociais, como a sociologia, a ciência política, a psicologia e a economia. Para a investigação de redes sociais na sociedade, foram desenvolvidos nove critérios por Clyde Mitchel, embora, por vezes, só uma selecção dos mesmos seja utilizada na realização desta.

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Existem três tipos de redes sociais:

• Redes sociais primárias ou micro-sociais- Este tipo de rede é muito importante na vida diária de todas as pessoas e refere-se à família, amigos, vizinhos, etc.

• Redes sociais secundárias ou macro-sociais- Este tipo de rede corresponde a todos os contactos que uma pessoa tem com instituições (local de trabalho, escola, jardim de infância, serviços económicos, serviços sociais, etc) Hoje em dia, há cada vez mais pessoas a precisar e a depender de instituições, de modo a conseguir, por exemplo, arranjar empréstimos ou emprego.

Redes sociais terciárias ou intermédias Estas redes podem ser de três tipos:
- Grupos de auto-ajuda (Alcoólicos Anónimos ou Toxicodependentes Anónimos)
- Serviços profissionais – funcionam como mediadores entre o estado e o indivíduo, podendo ser representados por advogados, contabilistas, assistentes sociais, entre outros.
- Organizações não governamentais (ONG)- Englobam organizações, como a Greenpeace, a Amnistia, o movimento feminista para criar um abrigo de mulheres contra a violência ou o movimento para a protecção de fauna vegetariana.
Apoio social e trabalho social

O apoio social bem como o assistente, são indispensáveis na vida de qualquer pessoa e quem beneficia deste apoio terá maior capacidade, para lidar com crises pessoais e situações de stress. Existem várias formas de apoio social:

• Apoio emocional diz respeito, à aceitação e reconhecimento dos nossos problemas, por outras pessoas, estabelecendo-se uma relação de confiança, na qual uma pessoa ouve a outra, sem a criticar e julgar;
• Apoio para encontrar soluções para problemas Corresponde aos conselhos e recomendações que outros nos podem dar, no sentido de conseguir-mos resolver os nossos problemas;
• Apoio prático e material Apoio que pode ser dado, com o objectivo de resolver problemas económicos, psicológicos, entre outros (apoio concedido pelo estado, através do subsidio de desemprego, por um psicólogo, por um assistente social, etc.)
• Integração Social Acordo sobre valores e princípios de vida;
• Nas Relações Confiança e segurança nas relações importantes.

Efeitos do apoio das redes sociais primárias:
• Família - É muito importante para a vida diária de uma pessoa, sendo a primeira instituição onde se recorre para pedir ajuda e apoio;
• Redes de apoio social de casais - Os membros dos casais apoiam-se entre si numa rede particular;
• Redes de apoio social de jovens pais - Estas redes demonstram ser bastante alargadas em situações sociais difíceis;
• Redes de apoio social de mulheres - São maiores e mais eficientes que as dos homens;
• Redes de apoio social de pai/mãe solitários -
• Redes de apoio social de grupo de pares - Têm uma grande importância nos jovens, dado que contribuem para o desenvolvimento dos seus sistemas de valores, bem como da sua personalidade;
• Redes de apoio social dos homens - São estabelecidas maioritariamente no domínio profissional.

Efeitos do apoio das redes sociais secundárias:
• Escola - Trata-se de uma rede macro -social, revelando-se num local de extrema importância para os jovens, quando o meio familiar se encontra desequilibrado, sendo este um espaço diferente, onde os alunos se encontram afastados por algum tempo, dos problemas e distúrbios familiares;
• Serviços Sociais - Estão incluídos também numa rede macro - social, sendo para muitas pessoas, o único contacto com o exterior;
• Apoio social no trabalho por colegas – Esta rede tem um importante relevo na vida dos trabalhadores, pois dificulta o surgimento de problemas sócio -psicológicos, que poderiam ocorrer numa situação de desemprego prolongado, na qual as pessoas deixam de ter contacto directo com antigos colegas de trabalho.

Efeitos do apoio das redes sociais intermédias terciárias:
• Grupos de auto-ajuda – Demonstram ser um importante meio, através do qual as pessoas com determinadas dependências podem encontrar alguma estabilidade física e psicológica.
• Assistentes informais – Podem ser massagistas, cabeleireiros, condutores de táxi, entre outros, que funcionam, por vezes, como conselheiros, ouvindo os seus clientes falar/desabafar sobre os seus problemas, sem pedir nada em troca.

As redes sociais que foram enumeradas devem ser tidas em conta pelo assistente social, de modo a que este possa realizar o diagnóstico social e encontrar soluções para o problema do assistido.

O Trabalho nas Redes Sociais como Modelo e Método de Acção
As Concepções de Rede Social, podem ser utilizadas em diversos conceitos e modelos de acção no vasto campo do trabalho social.
A Rede Social é considerada como um método suplementar ao trabalho social tradicional.
Abordagens e Desígnios do Trabalho nas Redes Sociais

O conceito de rede social é aplicado em diferentes campos tradicionais do trabalho social. Este visa amplificar, alargar e aprofundar na prática o conhecimento do trabalhador social.
Neste trabalho com as redes sociais, o trabalhador social recebe diversas informações pessoais, sobre as redes particulares do Cliente. Assim o método do trabalho social, como uma tecnologia social, não é muito eficaz. Pode-se verificar que a informação de rede sobre o cliente seja utilizada contra ele, em vez de ser a seu favor.

Surgem então alguns princípios indispensáveis do trabalho com as Redes Sociais:
○ A análise das Redes Sociais tem que respeitar a personalidade do cliente, ou seja, o cliente deve ser informado sobre os procedimentos e as consequências.
○ Os Clientes têm que estar de acordo, quando as informações sobre as suas redes pessoais e sociais são documentadas.
○ O Trabalhador Social, tem que explicar a função de controlo ao cliente.
○ Este deve também ser confidencial e cuidadoso, no que diz respeito á avaliação das acções do cliente, que tem “ direito a sentimentos e estados de espíritos próprios”.
○ Todo o trabalhador social, deve estar consciente de que “uma rede social é um recurso pessoal para um cliente,” este não deve ser destruído por uma intervenção inconveniente e inapropriada.

Como forma de utilizar o método da Rede Social, o trabalhador social deve seguir algumas competências, tais como:
○ Competência Social, que tem como objectivo a capacidade de comunicação, o trabalho de equipa, a gestão de conflitos e uma sensibilidade reflectiva.
○ Competência própria, que visa a capacidade de auto-gestão, como por exemplo: a gestão do tempo e a forma de lidar com o Stress.
○ Competência do método, que engloba a capacidade científica, analítica, ética e de avaliação.

Aconselhamento no Trabalho com Redes Sociais
No que diz respeito ao aconselhamento no trabalho com Redes Sociais, este procura eliminar os obstáculos existentes no comportamento do cliente, de forma a encontrar um novo apoio social, na sua rede social existente. Este aconselhamento do trabalhador social desenvolve uma “ reflexão/ pensamento acerca do trabalho com Redes”, com o objectivo de encontrar novas possibilidades de ajuda.

A auto-ajuda
Um trabalhador que esteja integrado no Ramo da auto-ajuda, pode dar muito apoio através do trabalho com Redes Sociais. Nomeadamente no que se refere à:
○ Mediação de e para um cliente, de forma a encontrar um grupo de auto-ajuda;
○ Publicação de um documento onde estejam registados todos os grupos de auto-ajuda existentes na cidade/ região (objectivos, moradas, horários de funcionamento);
○ Criação de uma infra-estrutura, como por exemplo, pontos de encontro e equipamento técnico (telefone, fax, correio electrónico, internet.);
○ Organização de redes intermédias, criando uma ligação entre instituições profissionais e grupos de auto-ajuda;
○ Colocação de grupos de auto-ajuda em rede, através da troca de informações e experiências.
○ Instalação dos diferentes centros de ajuda em rede a um nível nacional.

A Capacitação
O conceito de capacitação emerge de uma discussão dentro do trabalho social americano. Este pressupõe um processo através do qual, os clientes, são encorajados a procurar e mobilizar as suas próprias competências e recursos. Os Clientes devem aprender a reconhecer o seu próprio trabalho de forma a actuarem por si. Na prática, esta capacitação tem um plano fundamental:
○ Ao nível individual, “uma gestão de apoio familiar de forma a mobilizar os recursos dos clientes”.
○ Ao nível do grupo, “uma gestão de apoio para facilitar as possibilidades a auto-organização.”
○ Ao nível institucional, “uma gestão de apoio para encorajar a participação do cliente e a intervenção em discussões públicas acerca das políticas sociais.”

Colocar os Serviços Sociais em Rede
O Cliente tem imensas dificuldades, em conhecer e procurar o serviço certo para o seu problema, devido à especialização e burocratização dos serviços sociais.
É necessária uma coordenação, devido ao facto de estes serviços, ao mesmo tempo trabalharem, separadamente e em paralelo. A colocação dos Serviços em rede, pressupõe três abordagens distintas:
○ Recolha de informações disponíveis de todos os serviços sociais numa vila, cidade ou região, de forma a difundir ofertas disponíveis, sem esquecer a discriminação dos objectivos, tarefas, moradas, números de telefone, moradas electrónicas, páginas na Internet e horários de funcionamento.
○ “Coordenação das actividades”, com o objectivo de evitar trabalho redobrado.
○ “Cooperação entre os serviços sociais” de forma a que trabalhem juntos em benefício do cliente.

A vantagem de trabalhar em rede é dupla, verificando-se uma maior competência e responsabilidade pelo cliente devido à troca de informações e de cooperação. Existe também uma democratização e um aumento na produtividade do trabalho social, pois no trabalho em rede existe menos hierarquia e consequentemente menos passos e procedimentos burocráticos.

Trabalho Comunitário
No trabalho comunitário, a utilização de redes sociais significa que o trabalhador social é um mediador diário entre o “ mundo/esfera de vida” e “mundo/esfera de sistemas”. O mundo da vida rege-se pelos contactos pessoais, ou seja, a orientação de valores e a linguagem de dentro das redes sociais primárias do indivíduo (família, amigos e colegas).
No que diz respeito ao mundo de Sistemas, este é constituído pelas instituições políticas, económicas e sociais, que alguém com educação (alta), nem sempre consegue compreender.
O trabalhador comunitário age como um intérprete entre estes dois mundos e traduz a linguagem entre as pessoas que trabalham e vivem nos dois sistemas.

Gestão de Apoio
Um gestor que trabalha com redes sociais, não só coordena os casos dos seus clientes, como também actua e funciona em diferentes papeis no âmbito da sua actividade profissional. Este deve não só, ser conselheiro de trabalho em redes sociais, mas também, coordenador de serviços sociais numa cidade ou região. Deve trabalhar de forma multi-funcional, com o objectivo de integrar estas diferentes dimensões.
Técnicas do Trabalho Social com Redes
Mapa de Rede
O Mapa de rede é uma técnica muito importante na abordagem do trabalho social, em redes. Esta pressupõe uma análise em três pontos da rede social de um cliente:
○ A Rede Social Actual;
○ A Rede Social Desejada pelo Cliente;
○ A Génese de Rede Social no Passado para descobrir contactos “antigos”.

Usualmente o mapa de rede é constituído por quatro campos para a Família (I), Parentes (II), Trabalho ou Escola (III), e outras pessoas em contacto (IV). Existe também um mapa com seis campos, sendo o quarto campo dividido em amigos, vizinhos e assistentes profissionais.

Quadro de Rede Social
O quadro de rede social, é um quadro composto por pequenas figuras de madeira de diferentes tamanhos e de cores diferentes, todas elas com uma cara simplificada.
Através deste quadro de rede social, o trabalhador pede ao cliente para colocar as figuras (as pessoas da sua rede social) no quadro, ilustrando a forma como as relações do cliente são na realidade.
Após o cliente dar uma explicação sobre a configuração da sua rede pessoal, o trabalhador social pode questionar, por exemplo, o que acontecerá se uma pessoa da rede dele/dela faltasse, ou tivesse outra posição no quadro. Através deste método o trabalhador social pode criar cenários alternativos de forma a clarificar as oportunidades na rede, para analisar as estratégias e procurar encontrar novas estruturas de apoio numa rede remodelada.

Conferência de assistente e de Rede
Uma conferência de assistente, consiste numa reunião de todos os trabalhadores sociais de diferentes serviços sociais, que estão em contacto com o cliente. Esta abordagem também inclui outros profissionais que estão a ajudar o cliente, tais como psiquiatras, terapeutas, psicólogos, etc. Todos eles discutem e procuram encontrar soluções. O cliente também participa nesta conferência, mas só apenas ele/ela e não outros membros da sua rede social.
Esta conferência é mais do que uma conferência de assistente, isto devido a todos os outros membros da rede social serem convidados a participar, para discutir os problemas e juntamente com os profissionais, encontrar soluções para o cliente.
O trabalho com Redes Sociais é uma ferramenta fundamental, para analisar com mais eficácia as relações sociais dos clientes e para encontrar também possibilidades de mobilização de recursos nas Redes a favor e de acordo com as necessidades do cliente.
Este tema foi elaborado com base no livro de 100 anos de Serviço Social